Lord Jim - Cap. 14: Capítulo XIII Pág. 160 / 434

A nossa comunhão na noite era tal e qual a última vigília com um condenado. Ele era culpado. Era culpado, como eu dissera a mim mesmo repetidas vezes, e estava liquidado; contudo, eu desejava poupar-lhe os pormenores de uma execução efectiva. Não pretendo explicar as razões deste meu desejo - creio que não poderia fazê-lo mas se não as compreenderam já um pouco, então contei a minha história muito confusamente, ou os senhores estão com muito sono para apreender o sentido das minhas palavras. Não defendo a minha moral. Não havia moral no impulso que me levou a comunicar-lhe o plano de evasão de Brierly - deixem-me chamar-lhe assim - em toda a sua primitiva simplicidade. Ali estavam as rupias - no meu bolso, para esse efeito e absolutamente à sua disposição. Oh!, era um empréstimo; era um empréstimo, está claro - e se uma carta de apresentação para um homem (em Rangoon) que lhe pudesse encontrar trabalho... Pois!, com o maior prazer. Tinha caneta, tinta e papel no meu quarto, no primeiro andar. E enquanto falava estava já impaciente por começar a carta: dia, mês, ano, 2.30 a. m.... «peço-lhe, em nome da nossa velha amizade, que arranje trabalho ao Sr. James... em quem, etc., etc... » Estava até na disposição de escrever desta maneira a respeito dele. Se atraíra totalmente a minha simpatia, atingira, no entanto, a fonte e a origem daquele sentimento, chegara à secreta sensibilidade do meu egoísmo. Não lhes escondo nada, porque se o fizesse a minha acção pareceria mais incompreensível do que é justo que pareçam as acções dos homem e porque amanhã terão esquecido a minha sinceridade juntamente com as outras lições do passado. Neste ajuste, para falar com franqueza, eu era o homem irrepreensível; mas as subtis intenções da minha imoralidade foram derrotadas pela simplicidade moral do criminoso.




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