Lord Jim - Cap. 15: Capítulo XIV Pág. 167 / 434

Foi assim que eu vi a coisa naquela manhã - e ainda agora me parece descortinar um vestígio inegável de verdade neste ponto de vista. Podem imaginar a intensidade com que senti tudo isto, nessa altura. Foi talvez por essa razão que não pude admitir que era o fim. Aquilo estava sempre presente em mim, e eu sempre ansioso por rever o assunto como se o caso não estivesse encerrado pela opinião individual e pela opinião internacional - caramba! A daquele francês, por exemplo. A declaração oficial do seu país foi expressa com =- fraseologia impassível e definitiva que uma máquina teria utilizado, se as máquinas pudessem falar. A cabeça do juiz estava meio escondida pelo papel, a sua fronte parecia de alabastro.

«Tinham sido postas várias questões no tribunal. A primeira era se o barco estava devidamente preparado e equipado para a viagem. O tribunal respondeu que não. O ponto seguinte era se até ao momento do acidente o barco fora comandado com os cuidados devidos. Disseram que sim, só Jesus sabe porquê, e declararam que não havia provas que mostrassem a causa evidente do sinistro. Provavelmente tinham sido os destroços de um barco afundado à deriva. Eu lembrava-me de que um três mastros norueguês que partira com um carregamento de madeira de pinheiro fora dado como desaparecido, mais ou menos nessa altura e era justamente o género de embarcação capaz de se voltar com uma tempestade e flutuar com o casco para cima durante meses - uma espécie de espectro marinho à espreita dos navios para os destruir no escuro. Estes destroços errantes são assaz vulgares no Atlântico Norte, que está infestado por todos os terrores dos mares - nevoeiros, icebergues, navios fantasmas com intenções sinistras e tempestades pavorosas que nos cravam as garras como vampiros até nos sugarem as forças, a coragem a própria esperança, e nos deixam com a impressão de sermos apenas o invólucro vazio de um homem.





Os capítulos deste livro