Mas ali - naqueles mares - eram tão raros que parecia uma determinação especial de uma providência malévola, a qual, a menos que não tivesse como finalidade a morte do ajudante de fagueiro ou trazer a Jim qualquer coisa pior do que a morte, parecia uma obra do Inferno totalmente gratuita. Esta ideia concentrou toda a minha atenção. Durante um certo espaço de tempo tive consciência da voz do juiz apenas como um som, mas esta, num determinado momento, assumiu a forma de palavras precisas... 'com o mais completo desprezo pelo dever mais elementar', dizia. A frase seguinte escapou-me, não sei porquê. Depois a voz continuou calmamente: 'abandonando num momento de perigo as vidas e haveres confiados à sua guarda'... E parou. Debaixo da fronte marmórea, dois olhos atiraram uma olhadela sombria por cima da margem do papel. Olhei apressadamente para Jim, como se esperasse que ele tivesse desaparecido. Estava muito tranquilo no mesmo sítio. Continuava sentado, corado e louro, extremamente atento. 'Por conseguinte... ', tornou a voz enfaticamente. Ele tinha os olhos fixos, os lábios entreabertos pendentes das palavras do homem que estava detrás da mesa. Estas caíram no silêncio, flutuaram no ar agitado pelos pancás e eu, atento ao efeito que nele produziam, apanhei apenas fragmentos da linguagem oficial... 'O tribunal... Gustav... capitão... natural da Alemanha... James... imediato... retirada a carta-patente.' Seguiu-se um silêncio. O juiz deixara cair o papel sobre a mesa e, reclinado sobre o braço da cadeira, começou a falar despreocupadamente com Brierly. A assistência começou a sair; iam empurrando, e eu dirigi-me também para a porta. Ao chegar lá fora detive-me, e quando Jim passou por mim a caminho do portão agarrei-lhe no braço e fi-lo parar.