Lord Jim - Cap. 19: Capítulo XVIII Pág. 199 / 434

'Eu, mais dia, menos dia, tinha de lhe contar. Não podia continuar assim, pois não?' 'E então?', murmurei, depois de esperar uns segundos. 'Preferi partir', disse lentamente; 'este caso tem de ser enterrado.'

«Ouvia-se lá dentro Blake a descompor Egström num tom de voz injurioso e tenso. Eram sócios havia muitos anos, e todos os dias, desde o momento em que abriam as portas até à hora de fechar, B1ake, um homem pequenino de cabelos lisos negros de azeviche e olhos salientes e tristes, descompunha o seu sócio, sem parar, com uma espécie de fúria choramingas e maldosa. O barulho destas descomposturas fazia parte da casa como o respectivo mobiliário. Mesmo os estranhos bem depressa aprendiam a não fazer caso nenhum, a não ser para murmurar de vez em quando: um 'que maçada!' ou para irem fechar a porta da «sala». Egström, por seu lado, um escandinavo ossudo pesado, com um ar atarefado e grandes suíças louras, continuava no meio disto tudo a dirigir o pessoal, a verificar pacotes, a tirar contas ou a escrever cartas de pé diante da secretária, e comportava-se exactamente como se fosse surdo como uma porta. De vez em quando fazia 'Sssch', que não produzia o mínimo efeito. 'São muito gentis comigo aqui', disse Jim. 'Blake é um bocado malcriado, mas Egström é muito amável.' Levantou-se bruscamente e dirigiu-se compassadamente para um tripé onde estava assente um telescópio em frente da janela, apontou-o para a baía e pôs-se a observar. 'Lá está aquele navio que não pôde entrar esta manhã por falta de vento; está a entrar agora com a brisa', disse calmamente. 'Tenho de ir a bordo.' Apertámos as mãos em silêncio e ele deu a volta para sair. 'Jim!', gritei. Olhou para trás com a mão na maçaneta da porta. 'Você... você deitou fora uma fortuna.





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