Lord Jim - Cap. 21: Capítulo XX Pág. 217 / 434

'Falava-me como uma mulher', continuou Stein, 'dizia-me que tivesse cuidado, que voltasse antes da noite e que mal feito era partir assim sozinho. Estávamos em guerra o país não era seguro; os meus homens punham taipais antibalas nas janelas e carregavam as espingardas, e ela pediu-me que nada temesse por sua causa. Saberia defender a casa fosse contra quem fosse até eu voltar. Eu ri-me de prazer. Gostava de a ver tão corajosa e tão jovem e tão forte. Eu também era jovem então. Ao portão agarrou-me a mão, apertou-a e recuou. Retive o cavalo até ouvir trancar as portas. Havia um grande inimigo meu, um nobre importante e grande patife, que assolava a região com uma quadrilha de bandoleiros. Percorri quatro ou cinco milhas a trote largo; chovera durante a noite, mas o nevoeiro já se levantara e a face da terra estava limpa estendia-se sorridente diante de mim, fresca e inocente como uma criança. De repente começaram a disparar, talvez uns vinte tiros. As balas zuniam ao passarem-me junto aos ouvidos e o chapéu voou-me para o cocuruto da cabeça. Era uma emboscada, está a ver? Tinham conseguido que o meu pobre Mohammed me mandasse chamar e armaram-me esta cilada. Num azinho compreendi tudo e pensei... A ocasião requer habilidade. O meu pónei começa a resfolegar salta, empina-se, e eu deito a cabeça nas crinas; recomecei a andar e vi de lado, por cima do seu pescoço, uma nuvenzinha de fumo sair de um maciço de bambus, à minha esquerda. Pensei: ah!, ah!, meus amigos, porque não esperam antes de atirar? Ainda não é gelungen. Oh, não! Puxo do meu revólver com a mão direita, devagar, devagar. Os patifes eram só sete. Levantaram-se do chão e começaram a correr com os sarões arregaçados, a agitar lanças por cima da cabeça e a gritar uns para os outros que não deixassem fugir o cavalo, porque eu estava morto.




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