Lord Jim - Cap. 21: Capítulo XX Pág. 218 / 434

Deixei-os aproximar-se a uma distância como daqui àquela porta e, pum!, pum!, pum!, com boa pontaria. Visei ainda as costas de outro, mas falhei; já estava sentado de mais. Fiquei escarranchado no meu cavalo com a terra pura a sorrir-me e três cadáveres estendidos no chão: um enrolado como um cão, outro de costas, com uma mão sobre os olhos, como para os proteger do sol, o terceiro dobrou uma perna muito lentamente e esticou-a de repente. Pus-me a observá-lo com atenção, mas ficou quieto, bleibt ganz ruhig - ficou definitivamente quieto. E enquanto olhava para a sua face à procura - um sinal de vida vi passar sobre ela qualquer coisa como uma sombra. Era a sombra desta borboleta. Olhe para a forma das asas. Esta espécie voa alto, com um voo forte. Olhei para cima e vi-a a voar. Pensei: será possível? E perdi-a de vista. Apeio-me e começo a andar muito devagar, com o cavalo à rédea e o revólver na outra mão, a olhar para todos os lados.

Por fim, vi-a pousada num pequeno monte de lama seca, a dez pés de mim. Imediatamente senti o coração bater com toda a força. Larguei o cavalo. conservei o revólver numa das mãos e com a outra tirei o chapéu de feltro da cabeça. Dei um passo... Estaquei... Um segundo passo... Paf... Era minha. Quando me levantei, tremia de comoção; e quando abri estas asas maravilhosas e me certifiquei de ter apanhado um exemplar tão raro e tão extraordinariamente perfeito começou-me a cabeça a andar à roda e as pernas a fraquejar. Tive de me sentar no chão. Desejara imenso apanhar um exemplar destes quando trabalhava para o professor. Para o conseguir perdi dias inteiros e passei grandes privações. Sonhara com ela, e eis que de repente a tinha na mão... era minha! Segundo as palavras do poeta:


So halt' ich's endlich denn in meinen Hdnden,
Und nenn' es in gewissem Sinne mein.





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