Lord Jim - Cap. 24: Capítulo XXIII Pág. 245 / 434

Parou na minha frente. Perguntou-me se falava a sério, num tom que me pareceu um tudo nada insolente. Mas é preciso ver que eu era mais velho do que ele vinte anos. A juventude é insolente, e está no seu direito; tem de se afirmar, e neste mundo de dúvidas toda a afirmação é um desafio e uma insolência. Retirou-se para um canto e, voltando depois a avançar para mim, começou a atacar-me. Dizia que eu falava assim porque até eu, que fora tão bom para ele, não conseguia esquecer... não conseguia esquecer o que... o que... acontecera. Como haviam os outros de esquecer? Que admirava pois que ele quisesse afastar-se, que tivesse a intenção de se afastar... para sempre! E eu punha-me a falar de estados de espírito.

«'Não sou eu nem os outros que nos lembramos', gritei. 'É você... você, -: e não consegue esquecer.'

«Começou a dizer, muito exaltado: 'Quero esquecer tudo... e toda agente... toda a gente... ' Baixou a voz: 'Menos o senhor... '

«'Esqueça-se também de mim, se isso o ajudar', respondi também em voz baixa. Depois ficámos silenciosos e taciturnos durante um certo tempo, como pessoas cansadas. A seguir recomeçou a falar calmamente e contou-me que Stein lhe dera instruções para esperar um mês ou dois quando lá chegasse, para ter a certeza de que queria ficar antes de mandar construir uma casa, para evitar despesas inúteis. Stein usava expressões muito engraçadas. 'Despesas inúteis', estava boa... Se ficava lá? Mas com certeza, tinha de ficar. Deixassem-no entrar e veriam se ficava ou não; nunca mais de lá sairia. E não precisava de fazer esforço nenhum para isso.

«'Nada de temeridades inúteis', disse eu, inquieto com o tom ameaçador da sua voz. 'Se viver o suficiente, ficará bastante satisfeito de poder um dia voltar.





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