Lord Jim - Cap. 32: Capítulo XXXI Pág. 309 / 434

' Jim disse-me que sentiu uma espécie de decepção. Lá voltava a velha história. Estava cansado desses atentados contra a sua vida. Já tiveram a sua conta de tais alarmes. Estava farto deles. Afirmou-me que ficara irritado com a rapariga por o ter enganado. Seguira-a porque julgara que eu precisava da sua ajuda, e agora estava quase decidido a dar a volta para trás, aborrecido. 'Sabe?', comentou ele num tom compenetrado, 'penso que não estive em mim durante semanas inteiras, nessa altura.' 'Oh, não. Tudo isso é bem seu', não pude deixar de contradizê-lo.

«Mas ela continuava a andar apressadamente, e ele seguiu-a até no pátio.

Há muito tempo que todas as cercas tinham caído, e de manhã os búfalos dos vizinhos vinham passear no espaço aberto a bufar profundamente, sem pressas; o matagal já o invadia. Jim e a jovem pararam na erva alta e espessa. A luz que os iluminava tornava mais densa a escuridão circundante; só por cima das suas cabeças havia um cintilar opulento de estrelas. Disse-me Jim que estava uma bela noite, bastante fresca, com uma leve brisa que vinha do rio. Ele apercebeu-se da sua beleza amiga. Lembrem-se de que é uma história de amor que lhes estou agora a contar. Uma noite adorável que parecia fazer passar sobre eles uma doce carícia. A chama da tocha alongava-se de vez em quando com um frémito, tal uma bandeira, e durante algum tempo não se ouviu outro ruído. 'Eles estão no armazém', murmurou a jovem, 'à espera do sinal'. 'Quem é que o deve dar?', perguntou ele. Ela abanou o archote, que brilhou vivamente depois de ter semeado uma chuva de centelhas. 'O seu sono era muito agitado', continuou ela num murmúrio. 'Eu também estive a vigiar o seu sono.' 'Você!', exclamou ele, e estendeu o pescoço para olhar à sua volta.





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