Lord Jim - Cap. 32: Capítulo XXXI Pág. 310 / 434

'Você pensa que só nesta noite é que estive de vigia?!', disse ela com uma espécie de indignação sombria.

«Dizia ele que foi como se tivesse recebido uma pancada no peito que lhe tivesse cortado a respiração. Pensava como tinha sido um idiota completo e sentia-se cheio de remorsos, comovido, feliz, exaltado. Deixem-me avisá-los novamente de que esta é uma história de amor; e podem vê-lo bem na imbecilidade, não uma imbecilidade repulsiva, mas na imbecilidade exaltada da conduta de ambos, nesta paragem à luz do archote, como se eles tivessem vindo pôr a nu os seus corações para edificação dos assassinos escondidos. Se os emissários do xerife Ali tivessem, como Jim fez notar, um pouco de coragem, era o momento de saltar sobre ele. O coração batia-lhe violentamente - não de medo -, e, como lhe pareceu ouvir um restolhar no mato, saiu cautelosamente do círculo de luz. Uma sombra negra que mal se via, desapareceu rapidamente para longe da vista. Chamou em voz alta: 'Cornélio! Ó Cornélio!' Seguiu-se um profundo silêncio: parecia que a sua voz não fora ouvida a mais de vinte pés. A jovem encontrava-se de novo ao pé dele. 'Fuja!', disse ela. A velha aproximava-se, a sua silhueta dobrada abordava em pequenos saltos claudicantes o círculo de luz; ouviram-na resmungar e suspirar ao de leve como que num lamento. 'Fuja!', repetiu a jovem, excitada. 'Eles agora estão assustados... esta luz... as vozes. Agora já sabem que está acordado... e sabem que você é grande, forte, destemido…' 'Se sou tudo isso... ', começou ele a dizer; mas ela interrompeu-o. 'Sim… esta noite! E amanhã à noite? E na noite seguinte? E nas inúmeras noites que se seguirão? Poderei estar sempre de vigia?' Um soluço entrecortado da jovem impressionou Jim, muito mais do que é possível exprimir em palavras.





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