Lord Jim - Cap. 32: Capítulo XXXI Pág. 311 / 434

«Ele disse-me que nunca se sentira tão pequeno, tão insignificante: quanto à coragem, para que servia? Encontrava-se tão desarmado que até a fuga lhe parecia inútil; e embora ela continuasse a murmurar-lhe: 'Vá ter com Doramin, vá ter com Doramin', com uma intensidade febril, compreendeu que, para ele, não havia nenhum refúgio contra esta solidão que centuplicava todos os perigos, excepto... ela. 'Sentia que', dizia-me ele, 'afastar-me dela seria o fim de tudo.' Mas, como não podia ficar eternamente no meio do pátio, decidiu ir deitar uma olhadela ao armazém. Deixou que ela o acompanhasse sem pensar em protestar, como se tivessem sido unidos por laços indissolúveis. 'Sou destemido, não é verdade?', resmungou entre dentes. Ela segurou-lhe no braço. 'Espere até ouvir a minha voz', disse ela, e, de archote na mão, dobrou a esquina da casa com ligeireza. Ele ficou sozinho na escuridão, voltado para a porta; nem um ruído, nem um suspiro, vinham do outro lado. A velha bruxa soltou um gemido lúgubre, algures atrás das suas costas. Ele ouviu um apelo estridente, quase um grito, da jovem. 'Agora! Força!' Ele empurrou violentamente a porta, que cedeu com um estalido seco e deixou a descoberto, para sua grande surpresa, um interior baixo como uma cela e iluminado por um clarão pálido e fosco. Um turbilhão de fumo redemoinhava sobre um caixote de madeira vazio abandonado no meio do soalho, um montão de trapos e de palha agitou-se ao de leve na corrente de ar. A rapariga metera o archote por entre as barras da janela. Ele viu o braço nu e roliço, estendido e rígido, - a segurar o archote com a firmeza de um suporte de ferro. Num canto afastado havia um monte de trapos e de esteiras esburacadas que se empilhavam quase até ao tecto, e mais nada.





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