Lord Jim - Cap. 32: Capítulo XXXI Pág. 312 / 434

«Explicou-me que ficara amargamente desapontado. A sua resistência fora tão experimentada por tantos avisos, e durante semanas sentira-se rodeado por tantos sinais de perigo, que desejava o alívio de uma realidade palpável, de qualquer coisa de tangível que pudesse enfrentar. 'A atmosfera teria clareado durante um par de horas, pelo menos, percebe o que quero dizer? Caramba! Há vários dias que vivia com um peso no peito.' E agora, que pensara ir encontrar finalmente alguma coisa, não havia nada! Nem vestígios nem sinais de alguém. Ele empunhara a pistola quando a porta se abriu, mas deixou cair o braço. 'Dispare! Defenda-se, gritou a rapariga lá de fora num tom doloroso. Como ela estava na sombra, com o braço metido até ao ombro por entre um buraco estreito, não podia ver o que se estava a passar e não se atrevia a retirar o archote para vir de roda. 'Não está aqui ninguém!', gritou Jim, com desprezo, mas uma gargalhada de irritação e de ressentimento morreu-lhe na garganta sem ruído: no momento exacto em que voltava as costas, o seu olhar cruzou-se com um par de olhos escondidos no montão de esteiras. Avistou o brilho móvel do branco dos olhos. 'Saia!', gritou furiosamente, um pouco duvidoso, e viu uma cabeça escura, uma cabeça sem tronco, delinear-se no meio dos farrapos, uma cabeça estranhamente destacada que o fitava com um olhar ameaçador. Logo em seguida, o montão desfez-se, agitou-se e, com um grunhido rouco, um homem surgiu e lançou-se rapidamente sobre Jim. As esteiras pareceram saltar e voar; o homem tinha o braço direito erguido, dobrado pelo cotovelo, e do punho saía o gume cego de um cris que ele segurava um pouco acima da cabeça. O branco do pano apertado à roda dos rins parecia ofuscante contra o bronzeado da pele; o corpo nu luzia como se estivesse molhado.





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