Lord Jim - Cap. 34: Capítulo XXXIII Pág. 325 / 434

.. não é uma idiotice!', disse-me Jim num murmúrio apressado, com uma expressão inquieta e preocupada, no limiar da casa. Não percebo lá muito bem de idiotices, mas não havia nada de alegre naquele romance: tinham-se encontrado à sombra de um desastre mortal, como um cavaleiro e sua dama a trocar juramentos no meio de ruínas assombradas. A luz das estrelas era insuficiente para esta cena, uma luz tão débil e longínqua que não podia dar às sombras formas definidas e mostrar a outra margem de um rio. Naquela noite contemplei eu o rio do mesmo sítio; rolava silencioso e negro como o Estige. Deixei o Patusan no dia seguinte, mas não é provável que me esqueça a que perigo queria ela escapar quando lhe suplicava que partisse enquanto era tempo. Disse-mo ela própria já apaziguada, pois estava agora apaixonadamente interessada de mais para se abandonar a uma excitação fútil, numa voz tão impassível como a sua branca silhueta meio perdida na sombra: 'Não quero morrer a chorar.' Julguei que tinha ouvido mal.

«'Não quer morrer a chorar?', repeti eu. 'Como a minha mãe', acrescentou. O perfil da sua silhueta branca não fez o mínimo movimento. 'A minha mãe chorou amargamente antes de morrer', explicou. Uma calma inconcebível parecia ter-se levantado do chão à nossa volta, imperceptivelmente, como o lento subir das águas de um rio durante a noite, que apagava os traços das emoções familiares. De repente, como se me faltasse o pé no meio das águas, caiu sobre mim um temor súbito, o receio dos abismos desconhecidos. Ela continuou a contar que, durante os últimos momentos sozinha com a mãe, teve de abandonar a cabeceira da cama para ir encostar-se à porta, a fim de barrar a entrada de Cornélio. Este queria por força entrar e continuava a bater na porta com os dois punhos.





Os capítulos deste livro