Lord Jim - Cap. 34: Capítulo XXXIII Pág. 327 / 434

.. você, não o acredite?', perguntei-lhe com um sentimento de sincera reprovação e de genuína indignação. O que a impedia de acreditar? Donde vinha, portanto, esta sede de dúvida, esta obstinação no terror, como se a incerteza e o medo fossem a salvaguarda do seu amor? Era monstruoso. Ela devia ter feito um refúgio de paz inexpugnável daquela afeição sincera. Não tinha, contudo, nem a experiência... nem talvez a habilidade. A noite chegara de repente; fizera-se escura como breu, tão negra que, sem se mover, a jovem desvanecera-se como a forma intangível de um espírito atento e perverso. E de súbito voltei a ouvir o seu murmúrio impassível: 'Já outros homens o juraram antes dele.' Era um comentário meditativo de pensamentos plenos de tristeza, de terror. E acrescentou, em voz ainda mais baixa, se é possível: 'O meu pai fez o mesmo juramento.' Interrompeu-se para soltar um suspiro inaudível. 'E o pai dela também... ' Eram estas as coisas que a vida lhe ensinara! 'Ah!, mas ele não é assim', apressei-me eu a dizer. Ela parecia não querer discutir este ponto; mas, passado algum tempo, o murmúrio estranho e calmo, que atravessava o ar lentamente, chegou aos meus ouvidos. 'Porque há-de ser diferente? É melhor? É... ' 'Palavra de honra', disse eu abruptamente, 'que estou convencido disso!' As nossas vozes sumidas transformaram-se num sussurro misterioso. De entre as cabanas dos trabalhadores de Jim (que eram na maior parte escravos libertos da paliçada do xerife) ergueu-se um canto agudo e arrastado. No outro lado do rio (em casa de Doramin, suponho), uma grande fogueira parecia um globo ardente, completamente isolada no meio da noite. 'Ele é mais sincero?', murmurou ela. 'Sim', disse eu. 'Mais sincero do que qualquer outro homem', repetiu ela num tom hesitante.




Os capítulos deste livro