Lord Jim - Cap. 35: Capítulo XXXIV Pág. 338 / 434

Não tinha nenhuma espécie de importância. Nada tinha importância, desde que eu ganhara a certeza de que Jim, a única pessoa que me preocupava, acabara por subjugar o seu destino. Ele dissera-me que estava satisfeito... ou quase. Isto é ir mais além do que muitos de nós ousariam fazer. Eu, que tenho o direito de me considerar uma pessoa digna, não ouso. Nem nenhum dos senhores, suponho...»

Marlow fez uma pausa, como que à espera de uma resposta. Ninguém falou. «Muito bem», prosseguiu. «Nenhum de nós o saberá, pois a verdade só nos pode ser arrancada por uma catástrofe mesquinha, cruel e terrível. Mas Jim era um de nós,' e no entanto podia considerar-se satisfeito... ou quase. Imaginem só isto! Quase satisfeito. Por pouco não lhe invejava o que lhe acontecera. Quase satisfeito! Depois disto, nada tinha importância; pouco importava que suspeitassem dele, que confiassem nele, que o amassem ou que o odiassem - sobretudo porque era Cornélio quem o odiava.

«No fim de contas, esse ódio era ainda uma espécie de homenagem.

Julga-se um homem não só pelos seus amigos, mas também pelos seus inimigos, e este inimigo de Jim era daqueles que nenhum homem honesto se envergonharia de ter, sem no entanto fazer muito caso dele. Era este o ponto de vista de Jim, e eu partilhava-o; mas Jim desprezava-o por razões gerais. 'Meu caro Marlow', dizia-me ele, 'sei que se andar direito nada me poderá tocar. De facto, é o que faço. Agora, que já passou aqui tempo suficiente para deitar uma boa vista de olhos à sua volta... francamente não acha que estou em segurança? Tudo depende de mim, e, caramba!, tenho muita confiança em mim próprio. A pior coisa que Cornélio poderia fazer era matar-me, suponho. Mas nem me passa pela cabeça que o faça. Não pode, como você sabe, nem mesmo que fosse eu próprio a dar-lhe uma espingarda já carregada para o efeito, e depois, lhe voltasse as costas.





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