Lord Jim - Cap. 35: Capítulo XXXIV Pág. 337 / 434

Correu na minha direcção pela vereda; os pés, metidos nuns sapatos brancos sujos, luziam na terra negra; parou e pôs-se a choramingar e a fazer salamaleques. Trazia um chapéu alto e a sua carcaça seca completamente perdida num fato de pano fino preto. Este era o seu fato dos domingos e dias de festa, e isso fez-me lembrar que este era o quarto domingo que eu passava em Patusan. Durante toda a minha estada tivera sempre a vaga impressão de que ele desejava fazer-me confidências, se pudesse apanhar-me sozinho. Rondava-me com um olhar ansioso e suplicante na cara esverdeada; mas a timidez tinha-o conservado afastado, tanto quanto a minha natural relutância em tratar com uma criatura tão mesquinha. Teria, no entanto, sido bem sucedido, se não fosse tão propenso a eclipsar-se assim que se olhava para ele. Escapulia-se perante o olhar severo de Jim, diante do meu, que eu tentava tornar indiferente, até mesmo diante do olhar insolente e superior de Tamb' Itam. Estava sempre a esquivar-se; sempre que o avistávamos, ele desviava-se obliquamente, a olhar por cima do ombro, com um resmungo de desconfiança ou uma cara muda, desolada e lastimosa; mas nenhuma das expressões assumidas podia esconder a abjecção inata e irremediável da sua natureza, da mesma maneira que nenhum fato especial pode mascarar uma deformidade monstruosa do corpo.

«Não sei se foi por causa da desmoralização provocada pela minha derrota total no encontro com um espectro do terror, menos de uma hora antes, mas deixei-o apoderar-se de mim sem o mínimo esboço de resistência. Estava condenado a ser receptáculo de confidências e a ser posto perante perguntas sem resposta possível. Era aflitivo, mas o desprezo instintivo que o aspecto deste homem provocava tornava-o mais fácil de suportar.





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