Lord Jim - Cap. 36: Capítulo XXXV Pág. 346 / 434

Jim escutou-o durante algum tempo sem levantar os olhos e, por fim, disse-lhe que esperasse. Ouvi-la-ia dentro em pouco. Eles retiraram-se com um ar submisso para uma certa distância e acocoraram-se com os remos colocados diante deles, sobre a areia; os reflexos prateados dos seus olhos seguiam os nossos movimentos, pacientemente; e a imensidade do mar que se estendia a nossos pés, a imobilidade da costa, que se desenrolava para norte e sul a perder de vista, formavam uma presença colossal que nos observava, a nós, quatro anões isolados numa faixa de areia cintilante.

«'O pior', observava Jim tristemente, 'é que durante gerações os pobres pescadores daquela aldeia foram considerados escravos pessoais do rajá - e o velho patife não consegue meter na cabeça que... '

«Fez uma pausa. ‘ …que você modificou isso’, disse eu.

«‘Sim. Que modifiquei isso’, murmurou ele com uma voz sombria.

«‘Você teve afinal uma bela oportunidade’, prossegui.

«‘Acha que sim?’, disse ele. 'Pois bem, é verdade. Também acho que sim. Sim, reencontrei a confiança em mim mesmo... e tenho um nome glorioso... mas às vezes desejaria... Não! Hei-de conservar o que consegui. Já não posso esperar mais nada.' Estendeu o braço na direcção do mar. 'Lá de baixo, pelo menos.' Bateu com o pé na areia. 'Esta é a minha fronteira, porque não posso contentar-me com menos.'

«Continuámos a percorrer a praia a passos largos. 'Sim, modifiquei tudo isso', prosseguiu com um olhar de soslaio aos dois pescadores pacientemente acocorados. 'Mas tente só imaginar o que seria se eu me fosse embora. Caramba! Não está a ver? O Diabo à solta. Não! Amanhã vou lá acima correr o risco de tomar o café do velho idiota do Tunku Allang e fazer muito barulho por causa desses ovos podres de tartaruga.





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