Lord Jim - Cap. 39: Capítulo XXXVIII Pág. 370 / 434

«Sem perder um instante, a horda de Brown transferiu-se para bordo da escuna, levando consigo as armas de fogo e uma enorme provisão de munições. Eram dezasseis ao todo: dois desertores da armada inglesa; um alto e magro trânsfuga de um navio de guerra ianque; um par de escandinavos louros e simplórios; um mulato meio maluco; um chinês jovial, que era o cozinheiro - e o resto, escumalha indiscriminada dos mares do Sul. Nenhum deles protestou. Brown dobrava-os à sua vontade e, indiferente à forca, fugia diante do espectro de uma prisão espanhola. Não lhes deu tempo para transbordarem provisões suficientes; o tempo estava calmo, o ar carregado de cacimba, e quando soltaram as amarras e singraram a uma leve brisa da terra nem um arrepio percorreu as velas húmidas; a sua velha escuna parecia afastar-se suavemente do veleiro roubado e desvanecer-se sem ruído, na noite, confundindo-se com a massa negra da costa.

«Fugiram. Brown contou-me em pormenor a passagem através dos estreitos de Macassar. É uma história cruciante e desesperada. Tinham falta de víveres e de água; abordaram vários barcos indígenas para os obter. Com um barco roubado, Brown não ousava naturalmente arribar a nenhum porto. Não tinha dinheiro para poder comprar coisa alguma, nem papéis para apresentar, nem mentira bastante plausível pronta para se livrar de complicações. Uma noite surpreenderam um veleiro árabe ancorado no largo de Poulo Laut, que navegava sob pavilhão holandês e lhes cedeu um pouco de arroz sujo, um cacho de bananas e um barril de água; três dias de vento nordeste borrascoso e enevoado impeliram a escuna para o mar de Java. As vagas lamacentas e amareladas ensopavam esta colecção de bandidos esfomeados. Avistaram paquetes que vogavam nas





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