Lord Jim - Cap. 39: Capítulo XXXVIII Pág. 371 / 434

rotas indicadas; passaram por barcos ingleses bem fornecidos sob os seus flancos de ferro enferrujados e que, ancorados em fundos baixos, esperavam uma mudança do tempo ou a subida da maré; uma canhoneira inglesa, branca e elegante, com os seus dois mastros esbeltos, passou-lhes um dia pela proa à distância; noutra ocasião, uma corveta holandesa, negra e pesada de mastreação, apareceu-lhes avançando vagarosamente pela alheta, a fumegar no nevoeiro. Passaram sem serem vistos ou sem que fizessem caso deles, bando de proscritos pálidos e macilentos, enraivecidos pela fome e acossados pelo medo. A ideia de Brown era alcançar Madagáscar, onde esperava, por razões não inteiramente ilusórias, vender a escuna em Tamatave, sem que lhe fizessem perguntas, ou talvez obter para o navio papéis mais ou menos falsificados. Contudo, antes de poder enfrentar a longa travessia do oceano Índico, precisava de víveres e também de água.

«Talvez já tivesse ouvido falar de Patusan, ou talvez apenas lhe tivesse acontecido ler o nome escrito no mapa em pequenos caracteres, e sabia que devia ser o nome de uma grande aldeia de um Estado indígena, situada rio acima, completamente indefesa, afastada das rotas frequentadas do mar e dos postos extremos de cabos submarinos. Já antes fizera este género de coisas - à laia de negócio; agora era de absoluta necessidade, um caso de vida ou de morte, ou, antes, de liberdade. De liberdade! Tinha a certeza de lá encontrar provisões: bois, arroz, batatas doces. Os miseráveis já lambiam os beiços. Talvez pudessem extorquir um carregamento de mercadorias para a escuna e, quem sabe?, meter talvez a unha em metal sonante e ressonante! Pode-se fazer com que alguns desses chefes de tribo se saparem do dinheiro de livre vontade.





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