Lord Jim - Cap. 40: Capítulo XXXIX Pág. 380 / 434

Brown ficou radiante. Se lhe falavam, é porque já não era uma fera acossada. Estas palavras amigáveis aliviaram imediatamente a terrível tensão de vigilância daqueles homens, que, como cegos, não sabiam donde poderia vir um golpe mortal. Brown fingiu-se muito relutante. A voz afirmou que era 'um branco, um pobre velho arruinado que vivia ali há muitos anos'. Uma névoa húmida e fria cobria as encostas da colina, e, depois de uma nova troca de frases gritadas, Brown decidiu-se: 'Então, suba, mas sozinho, não se esqueça!' Na verdade disse-me ele tremendo de raiva ao recordar-se do seu desamparo -, não fazia nenhuma diferença. Não via nada a mais do que duas ou três jardas, e uma traição não podia piorar a situação deles. Daí a pouco distinguiram vagamente Camélia com o fato de todos os dias: uma camisa e calças sujas e rotas, descalço, e um capacete de cortiça com a aba quebrada. Avançava obliquamente para a barricada, hesitava, parava para escutar, numa atitude perscrutadora. 'Despache-se! Está em segurança', gritou-lhe Brown, enquanto os seus olhos não desfilavam Camélia. Todas as esperanças de salvação se encontraram de repente concentradas naquele recém-chegado decrépito e sórdido que, em profundo silêncio, escalava desajeitadamente um tronco de árvore derrubado e que, todo trémulo, lançava olhares azedos e desconfiados ao grupo de aventureiros barbudos, ansiosos e insones.

«Meia hora de conversa confidencial com Camélia abriu os olhos de Brown sobre os negócios públicos de Patusan. Ficou logo alerta. Havia possibilidades, imensas possibilidades; mas antes de discutir as propostas de Camélia, estipulou que lhe trouxessem víveres, como garantia de boa fé. Camélia foi-se embora, arrastando-se indolentemente colina abaixo para os lados do palácio do rajá.





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