Lord Jim - Cap. 43: Capítulo XLII Pág. 404 / 434

'Fi-lo o estremecer', gabava-se Brown. 'Deixou-se logo de representar o papel do justo comigo. Imóvel, sombrio como um céu borrascoso, não tinha os olhos fitos em mim, mas... no chão.' Perguntou a Jim se na sua vida não havia nada de obscuro de que se pudesse lembrar para que fosse tão danadamente rigoroso com um homem que tentava livrar-se de uma armadilha mortal pelos meios que tinha à mão... e assim por diante. Nestas palavras ásperas perpassava uma alusão subtil à raça a que pertenciam, a uma suspeita de experiências comuns; uma asquerosa insinuação de crimes comuns, de secretas lembranças que eram como que um vínculo entre os espíritos e os corações de ambos.

«Por fim, Brown estendeu-se no chão a todo o comprido e pôs-se a observar Jim pelo rabo do olho. Na outra banda do riacho, Jim reflectia, batendo na perna com a chibata. As casas que dali se avistavam permaneciam silenciosas, como se uma epidemia tivesse extinguido o último sopro de vida; mas, do interior, inúmeros olhos invisíveis estavam voltados para aqueles dois homens, separados pelo riacho, para a chalupa branca encalhada e para o corpo do terceiro homem meio enterrado na lama. Canoas azafamavam-se no rio, pois Patusan recuperava a crença na estabilidade das instituições humanas, desde o regresso do senhor branco. A margem direita, os terreiros das casas, as jangadas atracadas ao longo do rio, até mesmo os telhados das cabanas lacustres, estavam coalhadas de gente que, sem ouvir nem quase ver, esforçavam a vista para perscrutar o cabeça que se erguia por detrás da paliçada do rajá. Reinava um profundo silêncio adentro do vasto anel irregular das florestas, cortado em dois pontos pelo leito do rio. 'Promete abandonar a costa?', perguntou Jim. Brown soergueu-se e fez um vago gesto com a mão como que a querer dizer que abandonava a partida - e que aceitava o inevitável.





Os capítulos deste livro