Lord Jim - Cap. 6: Capítulo V Pág. 50 / 434

«Recusava-me a acreditar que assim fosse. Digo-lhes que ansiava por vê-lo dar mostras de sofrimento por amor da honra profissional. Os outros dois tipos insignificantes avistaram o seu comandante e começaram a caminhar lentamente na nossa direcção. Tagarelavam um com o outro enquanto avançavam descuidados, e liguei-lhes a mesma importância que teriam se fossem invisíveis a olho nu. Arreganhavam os dentes um para o outro deviam estar a atirar-se mutuamente gracejos, segundo parecia. Vi que um deles tinha um braço partido; e quanto ao indivíduo alto do bigode grisalho, reconheci nele o maquinista-chefe, que era por muitas e variadas razões urna personagem bastante desacreditada. Eram uns zés-ninguéns. Aproximaram-se, O capitão fitou com um olhar mortiço o espaço entre os seus pés: parecia anormalmente inchado por uma doença terrível, ou pela acção de um veneno desconhecido. Levantou a cabeça viu os dois à espera na sua frente, abriu a boca com um tremendo esgar de sarcasmo na face tumefacta - creio que para lhes falar - e de repente pareceu assaltá-lo uma ideia. Os seus grossos lábios violáceos fecharam-se sem emitir um som, partiu a gingar com passo resoluto na direcção da traquitana e começou aos puxões ao fecho da porta com uma brutalidade tão cega de impaciência que eu estava à espera de ver aquela coisa cair de banda com o pónei e tudo. O condutor, acordado da sua meditação sobre a sola do pé, pelos estremeções, deu imediatamente sinais de intenso terror, e, segurando-se com ambas as mãos, olhava debruçado da boleia aquela vasta carcaça a forçar a entrada no seu veículo. A engenhoca estremecia e oscilava violentamente, e o pescoço esticado,