Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 71 / 434

0 meridiano. Eu estava admirado com o caminho que tomavam os meus pensamentos, mas agora suspeito de que estavam rigorosamente de acordo com a sua personagem no fundo, o pobre Brierly devia estar a pensar em si próprio. Fiz-lhe notar que o comandante do Patna enchera suficientemente a burra para poder obter em qualquer parte os meios de se pôr ao fresco. Com Jim era diferente. O Governo detinha-o na Casa do Marinheiro, por enquanto, e provavelmente não tinha um tostão para mandar cantar um cego. ‘Uma fuga custa dinheiro, não custa?’ ‘Nem sempre’; disse ele, com um riso amargo; depois respondeu a uma outra observação minha. 'Pois bem, ele que se vá meter a vinte pés debaixo da terra e que se deixe lá ficar! Por Deus! Eu fá-lo-ia.' Não sei porquê, o seu tom irritou-me e disse-lhe: 'Há uma espécie de coragem no enfrentar as consequências até ao fim, sabendo muito bem que se fugisse ninguém se daria ao trabalho de correr atrás dele.' 'Maldita coragem resmungou Brierly. 'Essa espécie de coragem não chega para manter um homem ao caminho da honra, essa coragem não me importa peva. É uma espécie de cobardia - de moleza. Vou-lhe dizer uma coisa: eu dou duzentas rupias se você quiser dar cem e convencer o pobretana a raspar-se amanhã de manhã. O sujeito é um cavalheiro e não há-de querer aceitar transacções duvidosas - mas compreenderá. Tem de compreender! Esta publicidade infernal é demasiadamente chocante: ali está ele sentado diante de todos estes malditos chefes de turma, marinheiros e mestres quarteleiros indígenas que fazem contra ele deposições capazes de reduzir um homem a cinzas, em pura vergonha. Isto é abominável Então, Marlow, não acha, não sente, que é abominável? Não o sente como marinheiro? Se ele se fosse embora, tudo isto acabaria imediatamente.




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