Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 70 / 434

Falei com ele pela última vez durante o decorrer do inquérito. Foi depois do primeiro adiamento que veio ter comigo na rua. Encontrava-se num estado de irritação que me surpreendeu, pois o seu comportamento habitual, quando condescendia em conversar, era perfeitamente frio, com um toque de tolerância divertida, como se a existência do seu interlocutor fosse uma boa piada. 'Apanharam-me para fazer este inquérito, está a ver?', começou ele, e alargou-se em considerações, queixoso, sobre os inconvenientes da presença diária no tribunal. 'E só Deus sabe quanto tempo vai durar. Três dias, suponho.' Ouvi-o até ao fim em silêncio; na minha opinião de então, era uma maneira como outra qualquer de mostrar a sua importância. 'Para que serve isto? É a exibição mais estúpida que se pode imaginar', prosseguiu ele, muito excitado. Fiz-lhe notar que não havia outra alternativa. Interrompeu-me com uma espécie de violência contida. 'Sinto-me ridículo. Olhei para ele. Isto era ir muito longe... para Brierly... a falar de Brierly. Calou-se de repente, agarrando a lapela do meu casaco, deu-lhe um ligeiro puxão. 'Para que estamos nós a torturar aquele rapaz?', perguntou. Esta pergunta estava de tal modo em harmonia com a música de uma certa ideia minha que, com a imagem do renegado evadido nos olhos, respondi imediatamente: 'Diabos me levem se o sei, a não ser que ele se esteja a deixar torturar. Fiquei pasmado de o ver alinhar, por assim dizer, com o que eu dissera e que devia ser para ele bastante enigmático. Disse irritado; 'Sim, está claro. Ele não vê que aquele infame do seu capitão fugiu? De que estaria ele à espera? Nada o pode salvar. Está liquidado.' Demos uns passos em silêncio. Porquê sofrer injúrias?', exclamou com uma expressão de energia toda oriental- mais ou menos é a única forma de energia de que é possível encontrar vestígios a leste do 50.




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