Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 78 / 434

'Se o senhor fosse forte como sete', disse muito suavemente, 'dir-lhe-ia o que penso de si. O senhor... ' 'Cale-se', exclamei. Deteve-se um segundo. 'Antes de me dizer o que pensa de mim', prossegui eu rapidamente, 'quer ter a bondade de me dizer o que foi que eu fiz ou disse?' Durante a pausa que se seguiu observou-me com ar indignado, enquanto eu fazia esforços sobre-humanos de memória, no que era estorvado pela voz oriental dentro da sala de audiências, que, num discurso exprobatório de uma volubilidade apaixonada, contestava uma acusação de falso testemunho. Depois falámos os dois quase ao mesmo tempo. 'Hei-de-lhe mostrar que não sou', disse ele, num tom que sugeria o rebentar de uma crise. 'Digo-lhe que não sei de que me fala, protestei com severidade ao mesmo tempo. Tentou esmagar-me com um olhar de desprezo. 'Como vê que não tenho medo, está a querer arrepiar caminho', disse ele. 'Quem é o cão agora hem? Então, finalmente, compreendi.

«Tinha estado a esquadrinhar o meu rosto como que à procura de um sítio para acertar o golpe. 'Não dou licença a homem nenhum... ', murmurou, ameaçadoramente. Era, com efeito, um engano abominável; ele traíra-se completamente. Nem lhes posso dizer até que ponto estava chocado. Creio que viu um reflexo dos meus sentimentos na cara, porque mudou ligeiramente de expressão. 'Deus seja bendito!', gaguejei eu, 'não pensa que eu... ' 'Mas tenho a certeza de ter ouvido', repetiu ele, levantando a voz pela primeira vez desde o início desta cena deplorável. Depois acrescentou com uma sombra de desdém: 'Não foi então o senhor? Muito bem; irei procurar o outro. 'Não seja imbecil', gritei eu exasperado; 'não foi nada disso.' 'Eu ouvi, voltou ele a repetir com uma persistência sombria e inabalável.





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