Lord Jim - Cap. 8: Capítulo VII Pág. 88 / 434

Passou uma vez desembarcado, duas semanas inteiras à espera na Casa do Marinheiro, e, como lá estavam seis ou sete homens hospedados nessa altura, ouvi falar dele um pouco. Na fraca opinião deles, parecia que, além dos seus outros defeitos, era um bruto mal-humorado. Passara aqueles dias na varanda, enterrado numa cadeira de descanso, só saindo daquele túmulo às horas das refeições, ou já tarde, de noite, quando se punha então a passear sozinho pelo cais, desligado de tudo à sua volta, irresoluto e silencioso como um fantasma sem casa para assombrar. 'Creio que não troquei duas palavras com uma alma viva durante todo esse tempo', disse, e eu senti muita pena dele; e logo a seguir acrescentou: 'Eu tinha a certeza de que qualquer dos tipos que lá estavam havia de deixar escapar alguma palavra que eu decidira não suportar, e não queria zaragatas. Não! Não as queria nessa altura. Estava demasiado... demasiado... Não tinha ânimo para isso.' 'Então essa antepara resistiu, apesar de tudo', observei eu vivamente. 'Sim', disse ele, 'resistiu. E, no entanto, juro-lhe que a sentia arquear debaixo da mão.' É extraordinário o que pode aguentar, às vezes, um ferro já gasto', disse eu. Atirado para trás na cadeira, com as pernas esticadas e os braços pendentes, baixou levemente a cabeça repetidas vezes. Não se pode imaginar um espectáculo mais triste. De repente levantou a cabeça, endireitou-se no assento e deu uma pancada na coxa. 'Ah, que ocasião perdida! Meu Deus!, que ocasião perdida!', explodiu ele mas o som do último 'perdida' parecia um grito arrancado pela dor.

«Estava agora novamente em silêncio com um olhar parado e distante, numa saudade ardente dessa distinção perdida, com as narinas dilatadas um momento, a respirar o perfume inebriante dessa oportunidade desperdiçada.





Os capítulos deste livro