Lord Jim - Cap. 8: Capítulo VII Pág. 92 / 434

Faltava o tempo! Faltava o tempo! Nem sequer valia a pena abrir a boca, nem mexer um dedo. Antes de poder gritar duas palavras ou dar dois passos, estaria a debater-se num mar medonhamente branqueado pelos corpos humanos em luta, tornado sonoro pelos gritos angustiosos de socorro. O socorro não viria. Imaginou com toda a minúcia o que ia acontecer; imóvel, ao lado da escotilha, viveu tudo isto com a lâmpada na mão: viveu-o até ao último, horrível, pormenor. Creio que o voltou a viver enquanto me dizia estas coisas que não podia dizer no tribunal.

«'Vi tão claramente como o estou a ver agora a si que não podia fazer nada. Parecia que toda a vida tinha abandonado o meu corpo. Pensei que tanto fazia ficar no lugar onde estava e esperar. Não pensava que me restassem mais do que alguns segundos... ' De repente, o vapor parou de silvar, e se aquele ruído era de endoidecer, o silêncio súbito tornava-se intoleravelmente opressivo.

«'Pensei que morreria asfixiado mesmo antes de me afogar', disse ele. «Asseverou-me que não pensara em salvar-se. A única ideia que se formava nítida no seu cérebro, para logo desaparecer e voltar a formar-se, era: oitocentas pessoas e sete salva-vidas! Oitocentas pessoas e sete salva-vidas!

«Alguém pronunciava estas palavras dentro da minha cabeça', disse um pouco fora de si. 'Oitocentas pessoas, sete salva-vidas - e falta de tempo! Pense bem nisto!' Debruçou-se sobre a pequena mesa, e eu tentei evitar o seu olhar. 'Pensa que tinha medo da morte?', perguntou em voz baixa, com raiva. Bateu com a palma da mão aberta na mesa com um ímpeto que fez dançar as chávenas do café. 'Estou pronto a jurar que não estava que não estava... Por Deus - Não!' Levantou-se a toda a altura e cruzou os braços; o queixo descaiu-lhe sobre o peito.





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