Lord Jim - Cap. 9: Capítulo VIII Pág. 106 / 434

«'Julguei que ia beijar-me as mãos', disse Jim com raiva, 'e um momento depois começa a espumar e a sussurrar junto à minha face: «Se eu tivesse agora tempo, rachava-o.» Empurrei-o. Subitamente, deitou-me as mãos ao pescoço. Maldito! Dei-lhe um soco. Dei-lhe um soco sem olhar para ele.

Não quer salvar a vida... cobarde do Inferno?», soluçava ele. Cobarde!

Chamou-me cobarde do Inferno! Ah!, ah!, ah!, ah! Chamou-me... ah!, ah!, ah!...'

«Atirara-se para trás na cadeira e estremecia de riso. Nunca na minha vida ouvira nada mais pungente do que o som destas gargalhadas. Caiu como uma praga sobre a alegria ruidosa dos amadores de burros, pirâmides, bazares e outras coisas parecidas. Ao longo da galeria fracamente iluminada, as vozes calaram-se, as manchas pálidas das faces voltaram-se para nós num só movimento e o silêncio tornou-se tão profundo que o tinir claro de uma colher de chá que caiu no chão de mosaico da varanda ressoou como um pequeno grito argentino.

«Não se ria assim dessa maneira com toda esta gente aqui à sua volta’, censurei eu. ‘Não é agradável de ouvir.’

«Primeiro não deu sinais de ter ouvido, mas passado um momento, com um olhar que me fitava sem me ver e que parecia sondar o âmago de alguma visão pavorosa, murmurou com indiferença: 'Oh, pensam que estou bêbado.'

«E depois disto poder-se-ia pensar, ao olhá-lo, que nunca mais da sua boca voltaria a sair um som. Mas não havia perigo! Não podia já parar de falar, como não poderia deixar de existir apenas por um esforço da sua vontade.»





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