Lord Jim - Cap. 12: Capítulo XI Pág. 139 / 434

'Pois bem sim! Talvez eu não pudesse ver nesse momento. Mas tive muitíssimo tempo para ver naquele salva-vidas e toda a luz que se pode desejar. E estava capaz de pensar também. Ninguém saberia a história verdadeira, está claro mas isso não me facilitava nada. Tem também de acreditar nisto. Eu não desejei toda esta conversa... Não!... Sim!... Não mentirei... Eu desejava-a: era aquilo que eu queria, no salva-vidas. Pensa que o senhor ou alguém me podia fazer calar se eu não... Eu não tenho medo de falar. E também não tinha medo de pensar. Olhava o problema de frente. Não ia fugir. De princípio, de noite, se não fosse por aqueles tipos, eu podia ter... Não, por Deus! Não ia dar-lhes essa satisfação. Já me tinham feito bastante mal. Inventaram uma história e acabaram por acreditar nela, estou convencido. Mas eu conhecia a verdade e queria vivê-la até ao fim - sozinho, comigo mesmo. Não ia ceder diante de uma coisa tão abominavelmente injusta. Que provava ela, no fim de contas? Eu sentia-me despedaçado. Farto da vida - para lhe dizer a verdade; mas de que valeria esquivar-me... dessa... dessa maneira? Não era esse o caminho. Creio... creio que não poria... que não poria... ponto final .. em nada.'

«Andara a passear de um lado para o Outro, mas ao pronunciar as últimas palavras voltou-se repentinamente para mim.

«'Em que é que o senhor acredita?', perguntou, violento. Seguiu-se um silêncio e subitamente senti-me invadido por uma fadiga profunda e sem remédio, como se a sua voz me tivesse expulsado de um sonho onde eu vagabundeava através de espaços vazios cuja imensidade tinha atormentado a minha alma e esgotado o meu corpo.

«'...que não poria pomo final em nada', murmurava obstinadamente, Irado para mim. 'Não!, o que eu tinha a fazer era enfrentar a coisa até fim - sozinho comigo mesmo -, esperar por outra oportunidade para descobrir.





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