É como se a solidão fosse a dura e absoluta condição de existência. O invólucro de carne e de sangue que os nossos olhos vêem dissolve-se diante da mão estendida, ficando apenas o espírito caprichoso, inconsolável e fugitivo que nenhum olhar pode seguir nem as mãos prender. Era o medo de o perder que me fechava a boca, porque compreendera de repente, com uma força inexplicável, que se o deixasse desaparecer na noite nunca me perdoaria a mim mesmo.
«'Bem. Mais uma vez, muito obrigado. O senhor foi extraordinariamente... Não há palavras para... extraordinariamente… Não sei porquê, francamente. Tenho medo de não me mostrar tão grato como me mostraria se tudo isto não me tivesse caído em cima com tanta brutalidade. Porque, no fundo... o senhor... o senhor mesmo .. .' Balbuciava.
«'É possível' arrisquei eu. Franziu o sobrolho.
«'Seja como for, cada um de nós é responsável'. Olhou para mim como um falcão.
«'Isso também é verdade', disse eu.
«'Bem. Suportei esta prova até ao fim e não tenho intenção de deixar ninguém lançar-ma à cara sem... sem... lhe mostrar que não gosto.' Fechou o punho.
«'Mas, se você mesmo .. .', disse eu com um sorriso, um sorriso sem alegria; mas ele olhou para mim com ar ameaçador. 'Isso é comigo', disse. Um ar de resolução inabalável passou sobre o seu rosto e desapareceu como uma sombra vã e errante. Um momento depois retomara a sua expressão de bom rapaz em apuros. Atirou fora o cigarro. 'Adeus', disse com a pressa súbita de um homem que se demorou já muito e que tem um trabalho urgente a fazer; depois, durante um segundo ou dois não fez o mais pequeno movimento. A chuva caía com a poderosa impetuosidade de uma torrente devastadora, com um ruído de fúria indomável que lembrava pontes caídas, árvores arrancadas, montanhas minadas.