Lord Jim - Cap. 20: Capitulo XIX Pág. 207 / 434

«Não posso culpar muito Jim, mas o caso foi realmente desagradável; uma dessas lamentáveis rixas de cabaret. O seu antagonista era um dinamarquês vesgo, cujo cartão de visita indicava este título debaixo de um nome impossível: primeiro-tenente da Marinha Real do Sião. O homem não era decididamente nenhum «Ás» a jogar bilhar, mas não gostava de perder. Já bebera bastante, e depois da sexta partida pôs-se, mal-humorado, a dizer coisas desagradáveis sobre Jim. A maior parte dos que estavam no café não ouviram o que ele disse, e os que ouviram esqueceram-no, em face das lamentáveis consequências. O dinamarquês teve muita sorte em saber nadar, porque a sala de bilhar dava para uma varanda e em baixo corria o Menam, largo e profundo. Um barco cheio de chineses, provavelmente gatunos, pescou o oficial do rei do Sião, e Jim chegou à meia-noite ao meu barco sem chapéu. 'Toda a gente naquele café conhecia a minha história', disse de, ofegante ainda da luta. Lastimava numa certa medida o que se passara, mas fora obrigado a proceder assim. O que mais o afligia era ver que toda a gente sabia do seu doloroso caso, como se o andasse a proclamar pelas ruas. Naturalmente teve de deixar a cidade. Foi acusado por toda a gente de uma violência brutal que não convinha a um homem na sua delicada situação mostrar; alguns acusaram-no de estar abominavelmente bêbado; outros criticaram a sua falta de tacto. O próprio Schomberg se mostrou muito contrariado: 'É um rapaz muito simpático', disse-me ele, 'mas o tenente também o é. Todas as noites janta na minha table d'hôte, sabe? E partiram-me um taco! Não posso consentir isto. A primeira coisa que fiz esta manhã foi ir apresentar desculpas ao tenente, e creio que comigo a coisa se arranjou; mas pense, capitão, se todos os clientes se pusessem com brincadeiras dessas! O homem podia ter-se afogado.