A mão que apontava para o meu peito descaiu; ele deu um passo na minha direcção e pousou-a sobre o meu ombro suavemente Há coisas, disse tristemente, de que valia talvez mais não falar, e vivera tanto tempo sozinho que se esquecera - que se esquecera. A luz destruíra a segurança que lhe inspirara a sombra longínqua. Sentou-se e, com os cotovelos apoiados na mesa, passou a mão pela testa. 'E contudo é verdade... é verdade! Mergulhar no elemento destrutor... ' Falava em voz baixa, sem olhar para mim, com uma mão de cada lado da face. 'É este o caminho. Seguir o sonho, e continuar a seguir o sonho, e assim...
ewig... usque ad finem...' O murmúrio da sua convicção parecia abrir na minha frente vastas perspectivas incertas como a de um horizonte crepuscular sobre um plano ao amanhecer, ou... ou ao cair da noite? Faltava a coragem para decidir; mas era uma luz encantadora, atraente e ilusória, que cobria com a poesia subtil da sua penumbra barrancos e túmulos. A sua vida começara no sacrifício, no entusiasmo pelas ideias generosas; viajara para muito longe, por caminhos diversos e estranhos; sempre caminhara sem fraquejar, e portanto de cara descoberta e sem arrependimentos. E tinha razão. Era esse o caminho, sem dúvida. Mas o grande plano onde erram os homens por entre os barrancos e os túmulos permanecia desolado sob a poesia impalpável da luz crepuscular, com o centro na sombra e uma orla de claridade semelhante a um abismo de chamas. Quando finalmente voltei a falar, foi para lhe dizer que ninguém era mais romântico do que ele.
«Abanou a cabeça devagar e fitou-me depois com um olhar paciente inquiridor. Era Uma vergonha, disse; estávamos ali sentados a falar como sois garotos em vez de unirmos os nossos esforços para encontrar uma solução prática para o mal.