«Havia exaltação e orgulho, havia quase medo nesta exclamação em voz baixa. 'Caramba!', recomeçou a dizer, 'pense um pouco no que isto significa para mim.' Apertou-me outra vez o braço. 'E pergunta-me se eu tenciono partir daqui. Meu Deus! Quem? Eu? Eu, ir-me embora? Principalmente agora, depois do que me contou do Sr. Stein... Partir? Porquê? É a única coisa de que tenho medo. Seria mais... seria mais duro do que morrer. Não, palavra de honra. Não se ria. Tenho necessidade de sentir cada dia, cada vez que abro os olhos... que têm confiança em mim... que ninguém tem o direito de... Compreende? Partir! Para onde? Para quê? À procura de quê?'
«Eu dissera-lhe (era esse, aliás, o objectivo principal da minha visita) que Stein tinha a intenção de lhe oferecer a casa comercial com a reserva de mercadorias em condições muito vantajosas que tornariam a transacção perfeitamente regular e válida. Começara por resmungar e opor dificuldades. 'Maldita seja a sua delicadeza de consciência', gritei-lhe eu. 'Stein dá-lhe apenas aquilo que você ganhou. E nesse caso guarde as suas observações para o defunto M'Neil quando o encontrar no outro mundo, o que espero não se dê tão depressa... ' Teve de ceder aos meus argumentos, porque todas as suas conquistas, a confiança dos outros, a glória, a amizade, o amor, tudo isto, que fizera dele um chefe, tornara-o também prisioneiro. Olhava a paz cair da tarde, o rio, as casas, a vida eterna das florestas, as vidas humanas, os segredos da terra, o orgulho do seu coração, como coisas suas: mas eram elas que o possuíam, que o tornaram coisa sua até aos mais secretos pensamentos, até ao mais profundo frémito do seu ser, até ao último suspiro.