Lord Jim - Cap. 34: Capítulo XXXIII Pág. 330 / 434

A bala necessária ainda não foi fundida, nem a espada forjada, o homem que o fará ainda não nasceu; até mesmo as palavras aladas da verdade caem aos nossos pés como lingotes de chumbo. Para um tal encontro tão desesperado seria necessária uma flecha encantada, envenenada, banhada numa mentira demasiado subtil para que a fôssemos encontrar na Terra. É uma empresa para levar a cabo num sonho, meus senhores!

«Comecei o meu exorcismo com um peso no coração e também com uma espécie de raiva soturna. A voz de Jim elevou-se de repente num tom severo, atravessou o pátio para repreender a negligência de um criado, mudo, na orla do rio. Nada - disse eu num murmúrio distinto -, nada havia nesse mundo desconhecido que estivesse ansioso por lhe roubar a felicidade; não havia nada, nem vivo nem morto, não havia um rosto, uma voz ou uma força que pudesse arrancar Jim do pé dela. Suspendi a respiração e ela murmurou docemente: 'Foi o que ele me disse.' 'Disse-lhe a verdade', afirmei. 'Nada', disse ela num suspiro; depois voltou-se bruscamente para mim e, com uma emoção que mal se apercebia, disse: 'Porque veio até nós de tão longe? Ele fala muitas vezes de si. Tenho medo de si. Quer... quer levá-lo consigo?' Uma espécie de secreta violência insinuara-se nos nossos sussurros. 'Nunca mais voltarei', disse eu amargamente. 'E não preciso dele. Ninguém precisa dele.' 'Ninguém', repetiu ela num tom de dúvida. 'Ninguém', afirmei, sob o impulso de uma estranha emoção. 'Você julga-o forte, sábio, corajoso, grande; porque não acredita também que ele seja sincero? Parto amanhã, e tudo acabará. Nunca mais será atormentada por uma voz vinda do outro lado. Esse mundo que você não conhece é demasiado grande para dar pela ausência dele. Compreende? Demasiado grande! Você tem o coração dele nas mãos: tem de sentir isto, tem de o saber.





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