Lord Jim - Cap. 34: Capítulo XXXIII Pág. 331 / 434

' 'Sim, eu sei', murmurou ela sem se mexer, dura e impassível como urna estátua.

«Senti que não fizera nada. E que queria eu fazer? Já não sei ao certo.

Nessa altura estava animado de um ardor inexplicável, como se estivesse perante uma tarefa grande e necessária - a influência de momento sobre o meu estado mental e emotivo. Nas nossas vidas existem estes momentos, estas influências que vêm do exterior, por assim dizer irresistível e incompreensivelmente, como se fossem determinadas por misteriosas conjunções de planetas. Ela possuía, como eu lhe dissera, o coração de Jim. Possuía-o e possui-lo-ia inteiro, se pudesse acreditar, o que eu queria dizer era que no resto do mundo não havia ninguém que precisasse nem do coração, nem do espírito, nem da mão de Jim. É o destino comum, e contudo parece uma coisa terrível para dizer seja de que homem for. Ela escutava-me sem dizer palavra e o seu silêncio era como que o protesto de uma incredulidade invencível. Que necessidade tinha ela de se preocupar com o mundo para além das florestas?, perguntava eu. Podia-lhe afirmar que, das multidões que povoavam a vastidão desse desconhecido, nenhum sinal nem apelo viria enquanto ele vivesse. Nunca. Deixava-me agora arrastar pelas palavras. Nunca! Nunca! Lembro-me com surpresa da espécie de violência obstinada de que dava mostras. Tinha a ilusão de ter, enfim, deitado a mão ao espectro. De facto, toda essa cena real vivida deixou-me a impressão minuciosa e medonha de um sonho. Porque havia ela de ter medo? Sabia que ele era forte, sincero, sábio e corajoso. E era tudo isso. Certamente; e ainda mais: era grande, invencível... o mundo não precisava dele, esquecera-o e já não o reconheceria.

«Calei-me; reinava um profundo silêncio sobre Patusan, e o som fraco e seco de um remo que batia na borda de uma canoa, algures no meio do rio, parecia torná-lo infinito.





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