Lord Jim - Cap. 35: Capítulo XXXIV Pág. 334 / 434

Tentara combater o medo, mas fora é claro. Apenas conseguira juntar à angústia da jovem a suspeita de um conluio secreto, de uma conspiração inexplicável e incompreensível, para a conservar na ignorância. E tudo se cumprira fácil, natural e inevitavelmente pelo acto dele e pelo acto dela! Foi como se me tivessem mostrado o mecanismo do destino implacável de que nós somos as vítimas... e os instrumentos. Era terrível pensar na jovem que ali estava de pé, imóvel; os passos de Jim tinham um som fatídico enquanto se aproximava sem me ver, com as suas botas pesadas. 'Quê? Não há luz?', disse ele em voz alta, surpreendido. 'Que estão ambos a fazer às escuras?' Em seguida, deve ter dado com os olhos na jovem. 'Olá, rapariga!', exclamou ele alegremente. 'Olá, rapaz!', respondeu ela imediatamente com um sangue-frio surpreendente.

«Era a saudação habitual entre eles, e a entoação arrogante que ela punha na voz, um pouco aguda mas doce, tinha qualquer coisa de engraçado, de belo e de infantil que encantava Jim grandemente. Esta era a última vez que os ouvia trocar esta saudação familiar, e gelou-se-me o coração. A voz aguda e doce, o esforço, tão belo, a arrogância, tudo isso parecia extinguir-se antes de tempo, e o chamamento brincalhão soava como um gemido. Era demasiado terrível e infernal. 'Que fizeste de Marlow?' perguntou Jim; depois acrescentou: 'Foi-se embora, não é verdade? É curioso que não o tenha encontrado... Está aí, Marlow?'

«Não respondi. Não ia voltar... por enquanto, em todo o caso. Não podia. Enquanto me chamava, eu estava ocupado em escapar-me por uma cancela que dava para uma extensão de terreno recentemente desbravada. Não, não podia enfrentá-los por enquanto. De cabeça baixa, caminhei à pressa por uma vereda.





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