Não mais horizontes ilimitados como a esperança, não mais crepúsculos em florestas solenes como templos, na ardente demanda da Terra eternamente virgem, para além das colinas, através das correntes, para lá das ondas. Batiam as horas! Nunca mais! Nunca mais! Mas o pacote, aberto sob a lâmpada, trazia de volta os sons, as visões, o próprio sabor do passado uma multidão de rostos esfumados, um tumulto de vozes baixas que se extinguiam nas praias de mares distantes, sob um sol apaixonado e sem consolação. Ele suspirou e sentou-se para ler.
A princípio, viu três manuscritos diferentes. Um bom número de páginas cobertas de linhas apertadas e presas com grampos, uma folha de papel acinzentado com algumas linhas escritas numa letra que nunca vira antes e uma carta explicativa de Marlow. Desta caiu outra carta amarelecida pelo tempo e puída nas dobras. Apanhou-a e pô-la de lado. Em seguida voltou à mensagem de Marlow e, depois de ter percorrido rapidamente as primeiras linhas, deteve-se para, daí por diante, começar a ler atentamente, como alguém que se aproximasse a passos lentos e de olhos bem abertos de uma terra desconhecida, entrevista de relance.
«...Julgo que ainda não se esqueceu», dizia a carta. «Você foi o único que mostrou algum interesse por aquele que sobrevivia à narração da sua história, embora me lembre bem que não admitia que ele tivesse subjugado o destino. Profetizou-lhe a desgraça do cansaço e da náusea perante a honra conquistada, a tarefa imposta e o amor nascido da piedade e da juventude. Disse-me que conhecia muito bem 'esse género de histórias', com as suas satisfações ilusórias e as suas decepções inevitáveis. Também me disse, vem-me à ideia, que 'consagrar a vida a essa gente' (significando essa gente todas as raças humanas cuja pele é morena, amarela ou negra) 'era como vender a alma a um animal'.