Lord Jim - Cap. 38: Capítulo XXXVII Pág. 364 / 434

«'Não era como os outros', protestei; mas ela continuou num tom uniforme, sem nenhuma emoção:

«'Era pérfido.' E de súbito Stein explodiu: 'Não!, não!, não! Minha pobre filha!... ' Acariciou-lhe a mão abandonada no seu braço. 'Não!, não! Não era pérfido! Era sincero!, sincero!, sincero!' Tentava perscrutar o rosto de pedra. 'Você não compreende. Ach! Porque é que não compreende?... Terrível', disse-me ele. 'Mas um dia ela há-de compreender.'

«'E você vai-lhe explicar?', perguntei-lhe, olhando-o fixamente. «Vi-os afastarem-se. O vestido da jovem arrastava pelo chão, os cabelos negros caíam soltos pelas costas. Direita e ágil, ela caminhava ao lado do homem alto, cuja bata comprida e informe tombava em pregas verticais dos ombros curvados e cujos pés se moviam lentamente. Desapareceram por detrás daquela mata (talvez se lembre) onde crescem dezasseis espécies diferentes de bambu, todas fáceis de identificar para um entendido. Eu estava fascinado pela graça delicada e a beleza daquele pequeno bosque de tubos, coroados de folhas pontiagudas e cabeças emplumadas, pela leveza, o vigor e o encanto, nítidos como o som de uma voz, daquela vida tranquila e luxuriante. Recordo-me de ter ficado a contemplá-la durante muito tempo, como nos demoramos a ouvir um murmúrio consolador. Estava um desses dias encobertos tão raros nos trópicos, com um céu cinzento-pérola, em que nos assaltam memórias de outras praias e de outros rostos.

«Voltei para a cidade na mesma tarde; levava comigo Tamb' Itam e o outro malaio em cujo veleiro tinham fugido no meio do pavor e da tristeza do desastre. O choque parecia ter transformado as suas naturezas: petrificado a paixão da jovem e tornado quase loquaz o taciturno e arrogante Tamb' Itam.





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