Capítulo 39: Capítulo XXXVIII
Página 367
Na sua época de maior glória possuía um barco de três mastros, armado, manobrado por uma tripulação mista de canacas e pescadores de baleias que tinham desertado, e gabava-se, e não sei se era verdade, de ser financiado em segredo por uma muito respeitável firma de mercadores de copra. Mais tarde fugiu, dizia-se, com a mulher de um missionário, uma rapariga muito jovem de Clapham que casara com um tipo mole e de pés chatos num momento de entusiasmo e que, transplantada de repente para a Melanésia, perdera um pouco o norte. Era uma história lúgubre. Ela estava doente na altura em que ele a raptou e morreu a bordo do navio. Conta-se, como a parte mais maravilhosa da história, que ele se abandonou a uma explosão de dor sombria e violenta sobre o corpo dela. A sorte abandonou-o, pouco depois. Perdeu o navio nuns escolhos no longo de Malaita e desapareceu por uns tempos, como se tivesse soçobrado com o veleiro. Em seguida ouviu-se falar dele em Nuka-Hiva, onde comprou uma velha escuna francesa que já não estava ao serviço do Governo. Que honrosa empresa teria ele em vista quando fez essa compra não sei dizer, mas é evidente que, com altos-comissários, cônsules, barcos de guerra e fiscalização internacional, os mares do Sul estavam a tornar-se demasiado quentes para cavalheiros da sua igualha. É óbvio que deve ter transferido o seu teatro das operações mais para oeste, porque um ano depois desempenhava um papel incrivelmente audacioso, mas não muito proveitoso, numa história trágico-cómica na baía de Manila, em que um governador concessionário e um tesoureiro contumaz são as personagens principais; depois disto parece ter-se fixado perto das Filipinas na sua escuna carunchosa e lutado contra a sorte adversa, e finalmente, seguindo o caminho que lhe fora traçado, qual cego cúmplice dos Poderes Ocultos, acabou por se ver envolvido na história de Jim.
|
|
 |
Páginas: 434
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|