Lord Jim - Cap. 42: Capítulo XLI Pág. 399 / 434

Mas seria demasiado fácil. Eu e Os meus homens estamos metidos na mesma encrenca... e, Santo Deus, não sou daqueles que fogem a complicações e deixam Os outros em apuros», acrescentei eu. Ficou a pensar por instantes e depois quis saber o que tinha eu feito («além»), disse ele, designando a foz do rio com um movimento de cabeça) para me encontrar em tão má situação. «Estaremos aqui para contar um ao outro as histórias das nossas vidas?», perguntei-lhe. «E se fosse você a começar? Não? Bem, cá por mim não estou interessado em ouvir a sua. Guarde-a para si. Sei que não é melhor que a minha. Tenho vivido... e você também, embora fale como se fosse uma dessas pessoas que deviam ter asas para poderem mover-se sem tocar na lama. Pois bem... a lama existe e eu não tenho asas. Estou aqui porque tive medo uma vez na vida. Quer saber de quê? Da prisão. A prisão assusta-me, e quero que o saiba, caso isso lhe sirva de algum proveito. Não lhe vou perguntar o que o fez encafuar-se neste maldito buraco onde parece ter feito belas ratonices. O seu destino é esse e este é o meu: o privilégio de mendigar o favor de ser morto rapidamente ou então de me deixarem ir em liberdade morrer de fome à minha maneira»'...

«O seu corpo debilitado tremia com uma alegria tão veemente, tão sentida e tão malévola que parecia ter expulsado a morte que estava à espera dele naquela cabana. O cadáver do seu monstruoso egoísmo ergueu-se de entre os farrapos e a miséria, como se saísse dos lúgubres horrores de um túmulo. É impossível dizer em que medida mentiu a Jim, naquela altura, e em que medida me mentia agora - e mentia continuamente a si próprio. A vaidade prega à nossa memória sinistras partidas, e toda a paixão sincera precisa de pretextos para se manter acesa.





Os capítulos deste livro