Lord Jim - Cap. 2: Capítulo I Pág. 5 / 434

As relações assim estabelecidas são cultivadas, todo o tempo que o barco permanece no porto, por meio das visitas diárias do corretor. Este guarda ao capitão fidelidade de amigo, tem para com ele a solicitude de um filho, a paciência de Job, a dedicação generosa de uma mulher e a jovialidade de um companheiro de farra. A conta só é mandada mais tarde. É uma ocupação bela e humana. Por isso os bons corretores são raros. Quando um deles possuidor da esperteza em abstracto reúne a vantagem de ter sido treinado para o mar, vale muito dinheiro e um pouco de paciência com os seus caprichos. Jim ganhava sempre bons ordenados e tinham com ele paciência bastante para comprar a fidelidade de um inimigo. No entanto, com negra ingratidão, ele costumava atirar de repente ao ar o emprego e partir. Para os patrões, as razões que dava eram, obviamente, inadequadas. Diziam «Maldito imbecil» logo que voltava as costas. Era esta a crítica que faziam à sua requintada sensibilidade.

Para os brancos ligados aos negócios marítimos e para as capitães dos navios, ele era apenas Jim - e nada mais. Tinha, é claro, outro nome, mas estava sempre ansioso porque não o pronunciassem. O seu incógnito, furado como um passador, não se destinava a encobrir uma personalidade, mas um facto. Quando o conhecimento do facto irrompia através do incógnito, ele abandonava repentinamente o porto onde se encontrava nessa altura e ia para outro - geralmente mais para este. Persistia em viver nos portos porque era um marinheiro exilado do mar e possuía a Capacidade em abstracto, o que não serve senão para ser corretor num porto. Retirava-se em boa ordem na direcção do sol nascente, e o conhecimento do facto seguia-o acidentalmente, mas com perfeita inevitabilidade.





Os capítulos deste livro