Lord Jim - Cap. 44: Capítulo XLIII Pág. 417 / 434

'Era capaz de me atirar pela borda fora? Ah, não me perdia', resmungou Cornélio, impertinente. 'Há muitos anos que vivo aqui.' 'Mas não os suficientes para se poder orientar em semelhante nevoeiro', disse Brown, que se recostou sem largar o leme, inútil, que lhe fazia balançar o braço para cá e para lá. 'Sim, o suficiente para isso', grunhiu Cornélio. 'Muito útil', comentou Brown. 'Quer fazer-me crer que é capaz de encontrar aquela saída de que me falou, às cegas, neste nevoeiro?' Cornélio assentiu com um grunhido. 'Estão demasiado cansados para remar?', perguntou instantes depois. 'Não, por Deus!', gritou Brown bruscamente. 'Deitem os remos à água.' Ouviu-se no nevoeiro um grande entrechocar de paus que se transformou pouco a pouco num ranger regular de remos contra toleres invisíveis. Tudo continuava na mesma, e, se não fosse o leve chapinhar das pás que cortavam a água, seria como remar na barquinha de um balão sobre uma nuvem, disse-me Brown. Daí por diante, Cornélio não voltou a abrir a boca senão para pedir, com voz lastimosa, que lhe esvaziassem a água da sua canoa, que vinha a reboque. O nevoeiro dissipava-se gradualmente e a visibilidade tomava-se cada vez maior. À esquerda, Brown via apenas escuridão, como se estivesse a olhar as costas da noite que se afastava. De repente, num enorme ramo coberto de folhas apareceu-lhe por cima da cabeça, e pontas de rebentos, imóveis e gotejantes, curvavam-se debilmente ao longo da bordagem. Sem uma palavra, Cornélio tirou-lhe o leme das mãos.»





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