Lord Jim - Cap. 2: Capítulo I Pág. 7 / 434

Aprendeu ali um pouco de trigonometria e como cruzar as vergas do mastaréu. Todos gostavam dele. Obteve o terceiro lugar em navegação e foi remador do primeiro escaler. Como tinha uma cabeça sólida e um físico excelente, era uma galharda figura empoleirado no cimo dos mastros. O seu posto era na gávea do traquete, e muitas vezes olhava dali, com o ar desdenhoso de um homem destinado a brilhar no meio dos perigos, o pacífico aglomerado dos telhados em baixo, dividido ao meio pela corrente das águas barrentas do rio, e as chaminés das fábricas disseminadas dentro da área da planície circundante, que se erguiam perpendiculares a ela, contra um céu sujo, finas como um lápis, e a vomitar fumo como um vulcão. Via dali os grandes navios partir, os barcos largos que faziam a travessia, constantemente em movimento, e barquinhos flutuando lá no fundo, com o esplendor enevoado do mar na distância e a esperança de uma vida tumultuosa num mundo de aventuras.

No convés inferior, perdia-se no meio de uma babel de duzentas vozes, esquecia-se de si e vivia antecipadamente em imaginação a vida do mar, tal como é descrita na literatura recreativa. Contemplou-se a salvar vidas em navios naufragados, a cortar mastros no meio de furacões, a nadar contra a ressaca amarrado a um cabo; ou, náufrago solitário, descalço e meio despido, caminhar sobre recifes nus à procura de moluscos para enganar a fome. Viu-se a enfrentar selvagens em praias tropicais, a subjugar motins no alto mar e a sustentar a coragem de homens desesperados, num pequeno barco no meio do oceano - sempre um exemplo de dedicação ao dever, tão inabalável como os heróis dos livros.

«Aconteceu qualquer coisa. Anda cá.»

Pôs-se de pé num salto. As escadas estavam pejadas de rapazes que subiam rápidos.





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