Lord Jim - Cap. 38: Capítulo XXXVII Pág. 363 / 434

Nas minhas costas, os ramos das casuarinas, com a sua agitação leve e incessante, faziam-me lembrar o sussurrar dos pinheiros do nosso país.

«Este som triste e contínuo era um acompanhamento apropriado às minhas meditações. Ela dissera que ele fora arrastado por um sonho, e não havia resposta que se lhe pudesse dar; uma tal transgressão parecia imperdoável. E, contudo, não é a própria humanidade, na sua cega corrida, arrastada num sonho de grandeza e de poder para os caminhos da crueldade e da devoção em excesso? E o que é, afinal de contas, a procura da verdade?

«Quando me levantei para voltar a casa, avistei a bata acastanhada de Stein através de uma fenda na folhagem, e, numa curva do caminho, encontrei-o a passear com a jovem. Ela pousava a mão pequenina no braço do velhote, que, sob a aba larga e lisa do panamá, inclinava para ela a cabeça grisalha e paternal, com uma deferência compassiva e cavalheiresca. Deixei-me ficar de lado, mas eles pararam em frente de mim. Stein contemplava o chão a seus pés; a jovem, direita e leve no braço dele, olhava por cima do meu ombro com uns olhos negros, claros e fixos, 'Schrecelich, murmurou ele. 'Terrível! Terrível! Que se pode fazer?' Parecia estar a lançar-me um apelo, mas a juventude dela, os dias intermináveis suspensos sobre a sua cabeça, comoviam-me mais; e de repente, embora compreendesse que era inútil o que se dissesse, dei por mim a defender a causa de Jim por amor dela. 'Deve perdoar-lhe', concluí, e a minha voz parecia-me abafada, perdida numa imensidade surda e indiferente. 'Todos nós temos necessidade de ser perdoados', acrescentei instantes depois.

«‘Que fiz eu?’, perguntou ela com indiferença. «'Desconfiou sempre dele', disse eu.

«'Era como os outros', pronunciou ela lentamente.





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