Lord Jim - Cap. 15: Capítulo XIV Pág. 166 / 434

A sala do tribunal na penumbra, parecia mais vasta. Os pancás, no alto espaço sombrio, agitavam-se em breves oscilações. Aqui e ali, uma figura envolta em panos, diminuída pela altura das paredes nuas permanecia estática, no meio das filas dos bancos vazios, como que absorta numa pia meditação. O queixoso, que sofrera a opressão, um homem obeso cor de chocolate, estava sentado, pomposamente imóvel com o gordo tronco nu e a marca amarela da sua casta na testa; só os seus olhos brilhavam, a rolar nas órbitas no escuro, e as narinas dilatavam-se e fechavam-se violentamente ao respirar. Brierly deixou-se cair na cadeira extenuado, como se tivesse passado toda a noite a correr numa pista. O piedoso capitão apareceu excitado, inquieto, como se estivesse a dominar com dificuldade um impulso para se levantar e nos exortar seriamente à oração e ao arrependimento. A cabeça do juiz, delicadamente pálida sob os cabelos cuidadosamente arranjados, parecia a de um doente perdido depois de ter sido lavado, penteado e aconchegado nas almofadas. Chegou para o lado a jarra das flores - um ramo onde predominava o vermelho-púrpura com alguns botões rosa na extremidade de longos caules - e, agarrando com ambas as mãos uma folha comprida de papel azul, percorreu-a com os olhos apoiou o braço na beira da mesa e começou a ler alto numa voz igual, clara e indiferente.

«Caramba! Eu dissera muitos disparates sobre patíbulos e cabeças a caírem, mas asseguro-lhes que aquilo era infinitamente pior do que uma execução. Uma pesada sensação de irremediável pairava sobre a cena, sem que a esperança de paz e de repouso que se segue à queda do cutelo a viesse aliviar. O processo combinava a fria vingança de uma condenação à morte com a crueldade de uma condenação ao exílio.





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