«Doramin era um dos mais notáveis homens da sua raça que eu jamais vira. De estatura fora do vulgar para um malaio, não parecia apenas gordo, mas imponente e monumental. O corpo imóvel, vestido de tecidos ricos, de sedas coloridas e de bordados a ouro; a cabeça enorme, envolta num lenço vermelho e ouro; o rosto grande, gordo e redondo, sulcado de rugas, com duas pregas profundas e arredondadas que partiam de cada lado das narinas largas e ferozes para envolver a boca de lábios grossos; o pescoço de touro; a testa larga e enrugada sobranceira aos olhos penetrantes e orgulhosos - formavam um conjunto que, uma vez visto, nunca mais podia ser esquecido. A sua calma impassível (raramente mexia um membro uma vez sentado) era uma manifestação de dignidade. Nunca se ouvira dizer que tivesse levantado a voz. Emitia um surdo e poderoso murmúrio, ligeiramente velado, como se viesse de longe. Quando andava, dois jovens baixos e robustos, nus até à cintura, vestidos com sarões brancos e com um barrete preto no cimo da cabeça, sustinham-no pelos cotovelos; ajudavam-no a sentar-se e ficavam de pé por detrás da cadeira até que lhe aprouvesse levantar-se e nesse momento voltava a cabeça lentamente para a esquerda e para a direita, como que a custo; eles então seguravam-no pelos sovacos e ajudavam-no a erguer-se. Mas não tinha nada o aspecto de um inválido: pelo contrário, todos os seus pesados movimentos eram como que manifestações de uma força poderosa e reflectida. Supunha-se em geral que consultava a mulher sobre os negócios públicos, mas ninguém, que eu saiba, jamais os ouvira trocar uma só palavra. Quando se sentavam solenemente diante da larga abertura, permaneciam em silêncio. Viam a seus pés, à luz do crepúsculo,