Lord Jim - Cap. 27: Capítulo XXVI Pág. 268 / 434

Capítulo XXVI

«Doramin era um dos mais notáveis homens da sua raça que eu jamais vira. De estatura fora do vulgar para um malaio, não parecia apenas gordo, mas imponente e monumental. O corpo imóvel, vestido de tecidos ricos, de sedas coloridas e de bordados a ouro; a cabeça enorme, envolta num lenço vermelho e ouro; o rosto grande, gordo e redondo, sulcado de rugas, com duas pregas profundas e arredondadas que partiam de cada lado das narinas largas e ferozes para envolver a boca de lábios grossos; o pescoço de touro; a testa larga e enrugada sobranceira aos olhos penetrantes e orgulhosos - formavam um conjunto que, uma vez visto, nunca mais podia ser esquecido. A sua calma impassível (raramente mexia um membro uma vez sentado) era uma manifestação de dignidade. Nunca se ouvira dizer que tivesse levantado a voz. Emitia um surdo e poderoso murmúrio, ligeiramente velado, como se viesse de longe. Quando andava, dois jovens baixos e robustos, nus até à cintura, vestidos com sarões brancos e com um barrete preto no cimo da cabeça, sustinham-no pelos cotovelos; ajudavam-no a sentar-se e ficavam de pé por detrás da cadeira até que lhe aprouvesse levantar-se e nesse momento voltava a cabeça lentamente para a esquerda e para a direita, como que a custo; eles então seguravam-no pelos sovacos e ajudavam-no a erguer-se. Mas não tinha nada o aspecto de um inválido: pelo contrário, todos os seus pesados movimentos eram como que manifestações de uma força poderosa e reflectida. Supunha-se em geral que consultava a mulher sobre os negócios públicos, mas ninguém, que eu saiba, jamais os ouvira trocar uma só palavra. Quando se sentavam solenemente diante da larga abertura, permaneciam em silêncio. Viam a seus pés, à luz do crepúsculo,





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