Lord Jim - Cap. 27: Capítulo XXVI Pág. 269 / 434

no declinar do dia, a imensa extensão de florestas, mar verde-escuro adormecido que ondulava até à linha púrpura e violeta das montanhas; a sinuosidade brilhante do rio, como um enorme S de prata batida; a fita castanha das casas que seguia a depressão das duas margens encimadas pelas colinas gémeas que se erguiam acima do topo das árvores mais próximas. Os dois formavam um contraste maravilhoso: ela, ágil, delicada, poupada, rápida, viva, um pouco bruxa, com um toque de solicitude maternal mesmo até em repouso; ele, em frente dela, enorme e maciço, como uma estátua rudemente talhada na pedra com qualquer coisa de nobre e de bárbaro na sua imobilidade. O filho destes velhos era um jovem dos mais distintos.

«Tiveram-no tarde. Talvez não fosse realmente tão jovem como parecia. Vinte e quatro ou vinte e cinco não é uma idade muito jovem para quem foi pai de família aos dezoito. Quando entrava no vasto aposento, guarnecido e atapetado de belas esteiras, com um tecto alto forrado de tecido branco, onde o casal estava solenemente assentado, no meio de um séquito deferente, dirigia-se primeiro a Doramin para lhe beijar a mão, que o pai abandonava majestosamente, e depois ia-se colocar ao pé da cadeira da mãe. Idolatravam-no, mas nunca os vi olhar para ele diante de alguém. É verdade que esta cena fazia parte das funções públicas, pois o quarto estava geralmente cheio de gente. O formalismo solene dos cumprimentos e das despedidas, o profundo respeito expresso nos gestos, nos rostos, nos sussurros muito baixos, é simplesmente indescritível. 'Vale bem a pena ver esta cena', disse-me Jim quando atravessámos o rio no caminho de regresso. 'Parecem personagens de romance, não é verdade?', disse com ar de triunfo. 'E Dain Waris, o filho deles, é o melhor amigo (além de si) que eu jamais tive.





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