Lord Jim - Cap. 33: Capítulo XXXII Pág. 318 / 434

O Sol, cujos fogos concentrados fazem da Terra um minúsculo átomo de poeira em movimento, pusera-se por detrás da floresta, e a luz difusa de um céu opalino parecia lançar a ilusão de uma grandeza calma e triste sobre um mundo sem sombras e sem brilho. Enquanto escutava Jim, não sei o que me fazia reparar tão distintamente no escurecer gradual do rio e do ar; o surdo e irresistível trabalho da noite envolvia silenciosamente todas as formas visíveis, apagava os contornos, enterrava as sombras cada vez mais profundamente como a queda contínua de uma impalpável poeira negra.

«'Caramba!', começou ele bruscamente, 'há dias em que um tipo se sente absurdo como nunca; só sei que lhe posso dizer tudo o que me apetecer. Falo de acabar com... com a maldita lembrança que me não sai da cabeça... esquecer... O Diabo me leve se sei! Posso pensar nisso tranquilamente. Afinal de contas, que é que isso provou? Nada. Suponho que não pensa como eu...

«Proferi um murmúrio de protesto.

«'Não importa', disse ele. 'Estou satisfeito... ou quase. Basta-me olhar para a cara do primeiro homem que encontro para voltar a ter confiança. Não sei se se lhes pode fazer compreender o que se passa comigo. E depois? Vamos lá! Não fiz assim tanto mal...'

«'Certamente', disse eu.

«Mas, mesmo assim, não gostaria de me ter a bordo do seu barco, hem?' «'Vã para o Diabo!', gritei-lhe. 'Pare lá com isso.'

«'Ah, ah! Está a ver?', exclamou ele com um ar triunfante, mas calmo. 'Mas experimente contar isso a qualquer pessoa das de cá', prosseguiu ele, 'e verá que o tomarão por um idiota, um mentiroso ou por outra coisa ainda pior. É desta maneira que consigo suportar tal lembrança. Fiz alguma coisa por eles, mas fizeram isso por mim.'

«'Meu caro amigo', exclamei, 'você será sempre para eles um mistério insolúvel.





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