Lord Jim - Cap. 34: Capítulo XXXIII Pág. 323 / 434

Passara-se isso naquela noite, na margem do rio, depois de Jim ter morto o homem e de ela ter atirado o archote à água porque ele a olhava daquela maneira. Havia demasiada luz e o perigo fora então afastado... por pouco tempo... por pouco tempo. Jim afirmou então que não a abandonaria nas mãos de Cornélio. Ela insistira. Queria que a deixasse. Ele disse que não podia... que lhe era impossível. Tremia ao pronunciar estas palavras. Ela sentira-o tremer... Não é preciso muita imaginação para ver esta cena, para ouvir quase o murmúrio das suas vozes. Ela também temia por ele. Julgo que então só via em Jim uma vítima de perigos predestinados que ela compreendia melhor do que ele. Embora Jim tivesse subjugado o seu coração apenas com a sua presença, tivesse ocupado todos os seus pensamentos e se tivesse apoderado de toda a sua ternura, ela não acreditara muito na possibilidade de ser bem sucedido. Rigorosamente falando, ele parecia não ter nenhuma; toda a gente nessa altura assim pensava, e Cornélio também. Foi ele que mo confessou para atenuar o papel obscuro que desempenhara na conjura do xerife Ali para se desfazer do infiel. Até o próprio xerife Ali, como depois se soube, apenas votava ao branco um profundo desprezo. Tinha querido matar Jim principalmente por motivos religiosos, suponho. Um simples acto de piedade (e portanto infinitamente meritório) que não tinha muita importância. Cornélio concordava com esta maneira de ver. 'Ilustre senhor', explicou-me abjectamente na única ocasião em que conseguiu falar a sós comigo, …Ilustre senhor, como é que eu havia de saber? Quem era ele? Que podia fazer para atrair a confiança das pessoas? Como mandara o Sr. Stein um rapaz daqueles para falar de alto a um velho servidor? Estava pronto a salvá-lo por oitenta dólares.




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