Lord Jim - Cap. 40: Capítulo XXXIX Pág. 382 / 434

Um diabo qualquer já tentara fazê-lo, e sozinho, ainda por cima. Contudo, parecia que não fora completamente bem sucedido. Talvez pudessem trabalhar juntos: espremer bem o país e depois irem-se embora tranquilamente. No decorrer das negociações com Kassim veio a saber que o supunham dono de um grande navio, com muitos homens, que ficara na foz do rio. Kassim implorou-lhe que mandasse vir rio acima, sem demora, esse grande navio com muitos canhões e homens, para serviço do rajá. Brown declarou-se disposto a isso e as conversações prosseguiram nesta base com mútua desconfiança.

«Três vezes no decorrer da manhã o cortês e activo Kassim desceu para consultar o rajá e subiu vivamente a grandes passadas. Enquanto discutia as condições do contrato, Brown sentia uma espécie de prazer escarninho ao pensar na sua miserável escuna, que passava por um navio de guerra e apenas tinha dentro um monte de imundícies, e nos seus muitos homens, que eram um cozinheiro chinês e um coxo, que dantes ganhava a vida a recolher os destroços que o mar atira à praia em Levuka. De tarde, Brown obteve novas distribuições de víveres, uma promessa de dinheiro e um fornecimento de esteiras para os seus homens construírem abrigos. Protegidos contra o sol ardente, os bandidos deitaram-se e começaram logo a ressonar; mas Brown, sentado bem à vista numa das árvores abatidas, enchia os olhos com a cidade e o rio. Havia ali uma bela promessa de pilhagem. Depois de se ter instalado no acampamento como em sua própria casa, Cornélio postara-se ao lado de Brown e começava a tagarelar: indicava-lhe as localidades, dava-lhe conselhos, comentava à sua maneira carácter de Jim e os acontecimentos dos últimos três anos. Brown, aparentemente indiferente e de olhos fitos na distância, não perdia uma única palavra, mas não conseguia compreender claramente que espécie de homem era Jim.





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