Lord Jim - Cap. 44: Capítulo XLIII Pág. 411 / 434

Mas Jim não conhecia o egoísmo quase inconcebível desse homem que, ao ver os seus desejos frustrados e contrariados, enlouqueceu com a raiva indignada e vingativa de um autocrata melindrado. Mas se Jim não desconfiava de Brown, estava naturalmente ansioso por que não houvesse um mal-entendido que pudesse acabar num choque e numa efusão de sangue. Foi por esta razão que, mal os chefes malaios se retiraram, Jim pediu a Jóia que lhe desse de comer, pois ia deixar o forte para tomar o comando da cidade. Como ela protestasse por causa do cansaço, Jim disse-lhe que podia acontecer qualquer coisa que nunca perdoaria a si mesmo. 'Sou responsável por todas as vidas nesta terra', disse ele. A princípio mostrara-se sombrio; ela serviu-lhe pessoalmente a refeição (no serviço de jantar oferecido por Stein), recebendo as travessas e os pratos das mãos de Tamb' Itam, Instantes depois, com o espírito desanuviado, disse à jovem que lhe ia entregar o comando do forte por mais uma noite. 'Não poderemos dormir, minha querida, enquanto o nosso povo estiver em perigo.' Mais tarde afirmou a sorrir que ela era o mais valente homem deles todos. 'Se tu e Dain Waris tivessem feito o que queriam, nenhum desses pobres diabos estaria vivo.' 'São muito maus?', perguntou ela, debruçada sobre a sua cadeira. 'Há homens que agem mal algumas vezes sem serem muito piores do que os outros', respondeu depois de hesitar um instante.

«Tamb' Itam acompanhou o amo até ao embarcadouro, à entrada do forte. Estava uma noite clara, mas não se via a Lua e o meio do rio apresentava-se escuto, enquanto a água, ao pé das duas margens, reflectia a luz de muitas fogueiras 'como numa noite de Ramadão', disse-me Tamb' ltam. Canoas de guerra passavam impelidas em silêncio pela corrente sombria ou, ancoradas, flutuavam com um sonoro marulhar.





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